Foz do Iguaçu tinha 23 anos quando o Governo Federal inaugurou o Aeroporto do Parque Nacional do Iguaçu em 1941. A cidadezinha vivia então, como agora, uma euforia. O futuro parecia promissor. A cidade finalmente apontava para o futuro e estava no rumo certo. Com um aeroporto onde, naquela época, já pousava avião da Pan American, em escala rumo à Assunção, tudo havia sido projetado para dar certo. O governo do Estado já havia investido em um Hotel Cassino. Havia hotel, havia aeroporto e havia passageiros. Quando a Pan American deixou de voar para Assunção via Foz do Iguaçu, entrou a Panair, seu braço misto brasileiro-americano.
Havia, também, um grupo nascente de empreendedores. Os passageiros que chegavam ao Aeroporto do Parque Nacional do Iguaçu, encontravam uma frota de modernas “tintureiras” — as precursoras das atuais vans. Os passageiros já visitavam as Cataratas do Iguaçu que há dois anos ficavam dentro do Parque, recentemente federalizado.
Essas são as “tintureiras”, precursoras das atuais vans. Fonte: Acervo IBGE
Quando foi construído, o Hotel Cassino parecia estar no centro do nada. Porém era o lugar mais chique de Foz do Iguaçu. Artistas, políticos, líderes e presidentes se hospedaram no hotel construído pelo Governo do Estado. Só no final da década de 50, os visitantes ilustres passaram a ser recebidos no Hotel das Cataratas no interior do Parque Nacional do Iguaçu.
Com o moderno Hotel Cassino, Foz do Iguaçu foi incluída na rota dos Hotéis Cassinos do Brasil que haviam sido liberados para funcionar em 1934 e agitavam a vida cultural no Rio de Janeiro e em outras cidades brasileiras.
Após a inauguração do hotel, o casal Acylino e Rosa Cirilo de Castro — ambos nomes de ruas em Foz do Iguaçu — ficou responsável pelo gerenciamento do estabelecimento, o primeiro a oferecer hospedagem diferenciada aos visitantes.
Fachada do Hotel Cassino, em 1950. Fonte: Acervo IBGE
Mudança de rota
Em 1943,o Decreto Lei 5.812 do presidente Getúlio Vargas criou cinco territórios federais pelo desmembramento de terras de cinco estados: Amapá, Rio Branco, Guaporé, Ponta Porã e Iguassú.
Estava criado o Território Federal do Iguaçu (TFI). Foz do Iguaçu não era mais Paraná e o governo ditara que a capital do Território Federal seria “a cidade do mesmo nome”. Os moradores de Foz do Iguaçu saíram às poucas ruas para comemorar. Foz seria finalmente a capital de alguma coisa. Mas a euforia virou decepção e Foz do Iguaçu nunca assumiu o status de Capital do Território. A história registrou uma manobra interessante. O artigo 5° do Decreto 6.550 que tratava da administração do Território, declarou a cidade de Laranjeiras como a capital do Território do Iguaçu. Desta vez, a revolta foi total.
A manobra não levou em consideração o fato de Laranjeiras não estar dentro do Território. A solução encontrada foi incluir Laranjeiras no Território. A ex-Laranjeiras virou Vila Xagu e depois Iguaçu. Um Palácio do Governo foi construído em Iguaçu (hoje Nova Laranjeiras) mas a vida do Território foi curta. Ele foi extinto em 1946. A reviravolta da criação do Território desviou a atenção dos esforços para a construção do turismo local tendo como pedras fundamentais o cassino e as Cataratas.
Antigo Hotel Cassino, atual Senac. Foto: Karla Santin
O ano de 1946 trouxe outro golpe para a pequena Foz do Iguaçu. No dia 30 de abril de 1946, o Decreto-Lei 9.215 do presidente e marechal Eurico Gaspar Dutra, mandou fechar todos os cassinos no Brasil. Foi o fim do Hotel Cassino de Foz do Iguaçu e de outros 70 no Brasil. O hotel teve que se dedicar à atividade hoteleira e às excursões, unicamente. Houve um clamor nacional e Foz participou desse clamor.
Afirma-se que 53.200 pessoas ficaram desempregadas devido ao fechamento dos 71 cassinos brasileiros. Não há dados sobre as consequências da proibição dos cassinos para Foz do Iguaçu. O que se sabe é que a cidade se adaptou e se concentrou no esforço de atrair turistas para ver e viver as Cataratas do Iguaçu passando a divulgar o hotel como porto seguro e confortável para a visita às Cataratas do Iguaçu utilizando os serviços de uma Agência de Turismo em São Paulo.
Nova época
Entre a proibição dos cassinos no Brasil e a inauguração do Hotel das Cataratas, o turismo sobreviveu exclusivamente de quem viajava para ver as Cataratas. Quando o Hotel das Cataratas foi finalmente inaugurado, a empresa vencedora da licitação para administrá-lo, a Hotéis Bianchi do empresário paulista Alberto Quatrini Bianchi foi o último elo do turismo iguaçuense com a tradição dos cassinos.
Bianchi administrou uma rede extensa de hotéis cassinos no Brasil durante toda a época de ouro dos jogos no Brasil com investimentos de grandes capitais, entre eles os do magnata Percival Farquhar, o rei das ferrovias. A rede incluiu o Cassino Atlântico, no Rio de Janeiro, o Hotel La Plage em Guarujá (onde Santos Dumont se suicidou em 1932), o Grande Hotel de Poço de Caldas, Grande Hotel do Recife, o Cassino Tabaris em Salvador e o Cassino Icarahy em Niterói.
Meses após ter assumido a administração do Hotel, Bianchi passou a administração dele, após negociação com o Patrimônio da União, para a nascente empresa Real Linhas Aéreas, mas tarde incorporada à Varig. A partir dos anos 60, começa a brilhar no horizonte a estrela da Rede Tropical de Hotéis que incluiu no seu portfólio hotéis brasileiros como o Hotel das Cataratas (até 2007), o Tropical Manaus, o Tropical Tambaú, o Tropical Santarém, entre outros em grandes centros.
Nasce o receptivo
O turismo receptivo de Foz do Iguaçu e de Puerto Iguazú existe desde o começo do século 20 quando os pioneiros da hotelaria como Frederico Engel, de Foz do Iguaçu, e Leandro Arrechea, de Puerto Iguazú, administravam hotéis na sede de ambas cidades, além de possuírem um “pouso” em seus respectivos lados das Cataratas. Tanto Engel como Arrechea organizavam visitas a lombo de burros até as Cataratas.
Mas foi na década de 60, mais especificamente em 1965, que nasce o “receptivo internacional” organizado. Foi quando Fernando Rodrigues Valente abriu a empresa Serviço de Transporte e Turismo Cataratas (STTC). Logo, a STTC de Fernando Valente teve companhia de empresas como a Inter Express com sede em Assunção (Paraguai). Segundo lembranças registradas pelo agente de turismo receptivo e “aluno”, Júlio Cesar Rodrigues (in memoriam) , “Valente foi um mestre” e fez escola em Foz do Iguaçu. A década de 70, viu a consolidação de agências de turismo receptivo, algumas que saíram da escola de Fernando Valente, outras ligadas à hotelaria, como a Agência Tropical de Turismo (ATT) da Rede Tropical / Varig; a Gatti Turismo e inúmeras agências para atender o turismo nacional com a Ortega Turismo.
Futuro Centro Histórico de Foz
O antigo Hotel Cassino de Foz do Iguaçu é hoje a sede do Senac onde acontecem cursos profissionalizantes em diversas áreas de importância para a cidade. Em frente ao prédio histórico está a também histórica Praça Almirante Tamandaré, conhecida como Praça da Marinha. A sede da Capitania de Portos do Rio Paraná está aí desde 1933.
Nesta praça se encontra também a Escola de Fluviários onde se prepara tripulantes para a marinha mercante fluvial. Todos os anos, centenas de brasileiros vindo de todo o Paraná e Santa Catarina se preparam na escola. Ao lado da escola, está o Hotel de Trânsito da Marinha.
Do Senac, virando à direita, está a quadra onde se encontra a sede da Prefeitura Municipal. Não é difícil identificar, à direita, o prédio da atual Fundação Cultural e Biblioteca Municipal. Antes da Fundação, o prédio foi o Fórum de Foz Iguaçu, onde o destino de muita gente foi decidido.
A Igreja Matriz, sede da Paróquia São João Batista também está próxima à Prefeitura. Na frente da Sede da Paróquia está a antiga Câmara de Vereadores na Praça Getúlio Vargas. A menos de uma quadra está o prédio hoje ocupado por uma dependência do Ministério do Trabalho, entretanto, nesse prédio já funcionou a Delegacia da Polícia Federal, mas antes dela funcionou o Banco do Brasil.
Esta é a região destinada a se tornar, no futuro próximo, o Centro Histórico de Foz do Iguaçu. O motivo é que um novo Centro Cívico está em formação ao longo da Avenida Paraná e ruas próximas a ela. O novo Centro Cívico obedece a um Plano Diretor criado nos anos 1980. Há projetos quase obrigatórios para que a Prefeitura também se mude para o futuro Centro Cívico. Quando isso acontecer, o Centro Histórico de Foz do Iguaçu estará oficialmente criado. Porém enquanto o Centro Cívico não é lançado, o centro histórico já é parte do city tour de Foz do Iguaçu.